Desde o início dos anos 1970, um movimento de resistência ao comportamento homossexual tem ganhado força ao apregoar a possibilidade de um gay mudar sua orientação sexual graças à fé cristã. Baseados na Bíblia Sagrada, que condena o comportamento gay classificando-o como “abominação contra Deus”, os evangélicos defendem que a homossexualidade é um pecado que precisa ser combatido. As armas desta batalha são os testemunhos daqueles que garantem que, graças a Jesus, mudaram seu estilo de vida. Por outro lado, a sociedade moderna tende a defender que a orientação sexual é coisa que nasce com o indivíduo – e, portanto, seria impossível alterá-la sem acarretar violentos transtornos emocionais.
O debate, que tem esquentado em todo o mundo, prosseguiu em junho último, quando o Exodus Internacional, maior grupo ministerial de orientação cristã que trata do assunto, promoveu sua 32ª Conferência Anual em Irvine, no estado americano da Califórnia (ver quadro na página 62).
O que se discutiu ali é se a abordagem evangélica no trato da questão tem sido a mais apropriada. Apesar dos inúmeros relatos de mudança – não se fala em “cura”, uma vez que, há pelo menos 30 anos a homossexualidade já não é vista como doença –, a postura evangélica tradicional já não tem rendido resultados satisfatórios. Além disso, o patrulhamento da militância gay, apoiada por expressivos setores da mídia e da sociedade, tem conseguido isolar os grupos cristãos mais incisivos. Que o digam, principalmente, aqueles que, após passarem um período seguindo fielmente o que diz a Palavra de Deus, acabaram saindo novamente do armário e retornaram à prática sexual homossexual. Durante a conferência mesmo, três ex-integrantes do Exodus deram entrevistas falando de sua desilusão com a possibilidade de uma mudança de comportamento.
Mas agora, novas pesquisas podem ocasionar uma reviravolta nos rumos do debate. Os psicólogos americanos Stanton Jones, do Wheaton College, e Mark Yarhouse, ligado à Regent University, acabaram de lançar um livro onde narram com detalhes suas descobertas acerca dos primeiros três anos de um estudo ainda em andamento. Eles estão investigando participantes de dezesseis diferentes programas para ex-gays associados ao Exodus – ao todo, um universo de cerca de 100 pessoas.
As pesquisas revelam que alguns dos participantes desses grupos de apoio experimentaram mudanças significativas. Além disso, quem se submeteu voluntariamente às perguntas dos estudiosos não apresentou nenhum tipo de angústia mental ou espiritual por ter se envolvido em um programa voltado para ex-gays, ao contrário do que se apregoa. Este é o primeiro estudo a utilizar entrevistas e questionários múltiplos durante mais de um ano, obtendo dados dos participantes praticamente desde o início do envolvimento com os trabalhos voltados para ex-gays.
Jones e Yarhouse começaram a pesquisa com o propósito de resolver as diferenças surgidas em meio à sua comunidade profissional, que tem alertado que a chamada “terapia restauradora” com homossexuais é tanto impossível como perigosa. Tal concepção tem causado muito barulho também no Brasil, onde até mesmo o atendimento psicoterapêutico a homossexuais tem sofrido sérias restrições (ver quadro na página 63). Apesar das críticas às organizações de ex-homossexuais por parte da militância gay, os pesquisadores descobriram que as pesquisas até então publicadas não davam apoio de fato às suas declarações. Os estudos de campo existentes sobre as mudanças em homossexuais, embora em sua maioria já obsoletos, indicam na verdade algumas possibilidades de mudança. Só que era preciso atualizar tais estudos, o que acaba de ser feito com resultados significativos. Na maioria dos indicadores, a média dos participantes, tanto homens como mulheres, experimentou mudanças de grande relevância estatística quanto à sua identidade e atração sexual. Tais mudanças têm algumas características significativas – entre elas, a de que a redução na atração homossexual foi mais significativa, por exemplo, do que o aumento do interesse heterossexual.
Motivação e religiosidade – Os pesquisadores Jones e Yarhouse se esforçam por enfatizar que seu estudo não acrescenta nova luz sobre a probabilidade de uma mudança bem sucedida para nenhum indivíduo em particular. Os participantes foram auto-selecionados – um grupo altamente motivado e de grande religiosidade, todos envolvidos com os trabalhos do Exodus. Contudo, esse estudo marca um ponto crucial no processo de amadurecimento da organização. Começando como um pequeno experimento, o movimento, surgido em 1976, já suportou grandes lutas, aprendeu com seus revezes e alcançou um patamar estável de ministério. Frank Worthen, um homossexual de São Francisco, na Califórnia, teve sua vida transformada por Cristo no início dos anos setenta. A igreja que freqüentava, no sul do estado, começou a aconselhar homossexuais por meio de dois jovens na casa dos vinte anos de idade, Michael Bussee e Jim Kasper. O Exodus foi inaugurado em uma conferência de fim de semana envolvendo esses três e um pequeno grupo de gente interessada na questão.
Um ano depois, no segundo evento do gênero, o Exodus já chamava a atenção da Igreja e atraia protestos da parte dos militantes gays. Worthen, agora na casa dos setenta anos, continua com seu ministério para os homossexuais ao lado de sua esposa, Anita – e o Exodus, aos 31 anos, é hoje uma entidade sólida presente em diversos países, inclusive no Brasil, onde acaba de realizar seu 5º congresso nacional. Seus líderes mais proeminentes, como Alan Chambers, Joe Dallas, Sy Rogers, Andy Cosmikey e Alan Medinger, dentre outros, estão fora da prática homossexual e envolvidos no ministério há décadas. A maioria está casada e com filhos crescidos. Escândalos entre os líderes – como o de Michael Bussee, que apenas três anos depois do surgimento do Exodus renunciou aos objetivos do grupo e voltou ao estilo de vida gay, declarando que ninguém muda na realidade – são muito mais raros do que no início do movimento. Isso de deve ao crescente sistema de acompanhamento responsável e à maior conscientização de que aqueles que ministram em sua própria área de tentação são mais vulneráveis.
A crescente aceitação cultural do homossexualismo também tem, de forma um tanto paradoxal, ajudado o Exodus em seu relacionamento com as igrejas. Joe Dallas, fundador e diretor do Genesis Counseling (Aconselhamento Gênesis), comenta que líderes que foram gays ajudam as igrejas a articular uma resposta à teologia pró-homossexual. “As pessoas na maioria das denominações jamais imaginaram que teriam que abordar uma perspectiva bíblica do homossexualismo, do mesmo modo que um pai ou uma mãe jamais pensou em ter que responder a uma filha que chegasse em casa dizendo que é lésbica”, frisa Dallas.
A verdade é que o movimento tem se apresentado de forma muito mais madura. As esperanças iniciais de transformação imediata cederam lugar à crença de que a mudança ocorre através de uma vida inteira de discipulado. “Os ex-gays passam por um processo de conversão que não tem ponto de chegada, e eles admitem que a mudança envolve desejos, comportamento e identidades que não se alinham com total nitidez ou permanecem fixas”, enfatiza Tanya Erzen, professora na Universidade Estadual de Ohio. Ela estudou a fundo o New Hope Ministry (Ministério Nova Esperança), de San Rapahael, na Califórnia. Apesar de confessadamente não simpatizar com os objetivos de quem se declara ex-homossexual e quer alcançar outros, ela gostou das pessoas que conheceu ali. “Ex-gays, tanto homens quanto mulheres, nascem de novo no sentido religioso, e como parte desse processo consideram-se sexualmente reconstituídos. Um deles me disse que a heterossexualidade, para ele, não é um alvo – o objetivo desse pessoal é entregar o coração a Jesus e ser obediente a Deus.”
“Liberdade para lutar” – Não surpreende, portanto, que esses ministérios atraiam de um modo especial os cristãos. A maioria dos participantes possui um histórico evangélico e não consegue conciliar sua fé cristã com uma identidade homossexual. A pesquisa de Mark Yarhouse e Stanton Jones descobriu que muitos homossexuais que se convertem ao Evangelho buscam ajuda com persistência e investem anos de sua vida no processo. Ao longo dessa jornada, eles esperam que ocorram muitas mudanças, inclusive quanto aos sentimentos mais íntimos e à atração sexual. “No início do ministério, ninguém sabia o que esperar. As pessoas alimentavam uma certa expectativa e alguns desistiram porque aquilo que esperavam não era a realidade”, diz Alan Chambers. “Eu mesmo era uma pessoa imatura, que reagia de forma imatura. Hoje, encontramos uma maneira muito melhor de falar sobre mudança. Agora já progredi tanto como crente quanto como um homem maduro. Era inevitável que meus sentimentos e aparência externa mudassem. Quando passei a ter como alvo, não ser um heterossexual, porém ser o melhor filho de Deus que pudesse, aceitando a sua graça, minha identidade finalmente mudou”.
Chambers é sincero ao dizer que a mudança não erradica a tentação. Ele até se questiona se tal transformação poderia ser completa nesta vida. “Uma coisa que podemos esperar como cristãos é uma vida de renúncia”, afirma o dirigente do Exodus. “Atualmente, não temos receio de dizer às pessoas que elas poderão ter uma vida inteira de lutas. Mas enfatizamos que liberdade não é a ausência de lutas, mas uma vida de lutas com alegria em meio ao processo”. (Tradução: Pedro Bianco; redação: Carlos Fernandes)
Discipulado levado a sério
No último dia 26 de junho, no tranqüilo campus da Universidade Concórdia, em Irvine, Califórnia, cerca de 800 pessoas se juntaram para a conferência anual do Exodus. A maioria era de jovens, sendo dois terços do sexo masculino. A “Revolução”, como é chamada a conferência, parecia ser um encontro cristão como outro qualquer: celebrações ao som de música gospel, testemunhos, orações e muitos seminários. O conteúdo do que foi dito, no entanto, expressa bem a nova tendência evangélica na abordagem da questão homossexual. Nada de arroubos de fé – Alan Chambers, o conferencista que abriu o congresso, fez questão de enfatizar que não existem fórmulas como “dez passos” para se vencer a homossexualidade.
“Prestem atenção com muita clareza ao que vou dizer: vocês não serão curados nesta semana”, declarou o dirigente do Exodus. “Não podemos escolher o que sentimos, mas podemos escolher como viveremos. Eu escolho todos os dias negar o que brota naturalmente dentro de mim, e tenho que depender do Senhor Jesus Cristo neste processo.”
De uma centena de maneiras diferentes, os conferencistas e líderes de seminários declararam que a mudança só vem através de uma vida inteira de obediência a Cristo. Aplausos saudaram Sy Rogers, que falou no segundo dia. Rogers é extremamente divertido; no entanto, sua forma de comunicação intensa e contínua transmite uma mensagem muito séria sobre o discipulado cristão. “Deus não disse: ‘Deixe de ser gay’. Ele disse: ‘Siga-me’”. Isso resume muito do modo de agir dos ministérios cristãos voltados para homossexuais hoje em dia. Nada de propaganda enganosa, confiança limitada a técnicas tipo “faça isso e deixe de pensar naquilo”. Não há o massacre espiritual aos gays que marcou durante tanto tempo esse tipo de trabalho, nem triunfalismo. Apenas discipulado levado a sério. Talvez esse seja o único grupo nos Estados Unidos que está totalmente consciente de que, quando se decide seguir a Jesus, nem sempre se acaba fazendo o que se quer.
Nos dias de hoje, o movimento de ex-gays flui contra a maré cultural. A opinião pública adversa, o apoio ambivalente das igrejas conservadoras e a asseveração comum de que essas pessoas estão condenados a uma vida de frustrações poderiam significar a falência dos ministérios específicos. Contudo, o número de afiliados ao Exodus dobrou nos últimos dezoito anos. Muitos de seus líderes estiveram no centro da atenção pública por 20 ou 30 anos e ainda apresentam todos os sinais de estabilidade. Eles vivem por idéias radicais acerca da sexualidade, inclusive a de que o ser humano não é definido por seus desejos, sejam eles heterossexuais ou homossexuais – e que todo tipo de atração precisa ser submetida a Cristo, pois somente ele tem a capacidade de redimir o indivíduo. Para aqueles que sentem forte atração pelo mesmo sexo, a tarefa é bem mais difícil, claro. No entanto, continua sendo a mesma luta básica que todo cristão precisa enfrentar – vencer o pecado.
Abrangência perigosa
A possível aprovação do projeto de lei da Câmara dos Deputados nº 122/06, que criminaliza a prática da chamada homofobia, pode provocar uma reviravolta na maneira como o assunto é tratado no Brasil. De autoria da ex-deputada federal Iara Bernardi, a proposta visa punir com mais rigor quem praticar atos de constrangimento contra quem quer que seja devido à sua opção sexual, prevendo penas que podem chegar a cinco anos de reclusão e multas pesadas. Entre outras medidas, o PL 122/06 criminaliza aquele que “discriminar ou incitar a discriminação” contra homossexuais, punindo atos constrangedores ou vexatórios, mesmo que de ordem moral, filosófica ou psicológica.
Além disso, impedir que parceiros homossexuais manifestem afetividade em lugares públicos passaria a ser crime, assim como proferir injúrias e impropérios referentes à orientação sexual homoafetiva.
Aprovado na Câmara cinco anos depois de apresentado, o projeto agora tramita no Senado Federal e causa apreensão em diversos setores. Pastores, líderes evangélicos e parlamentares ligados à Igreja preocupam-se com a possibilidade de que quaisquer discursos contra o homossexualismo – inclusive pregações baseadas nas orientações bíblicas sobre o assunto – passem a ser reprimidos. Abrangente, a proposta, se aprovada e sancionada, poderia em tese atingir até mesmo aqueles que se oponham, por questões pessoais ou religiosas, à homossexualidade. O projeto de lei, que conta com amplo apoio de entidades ligadas ao movimento gay, não é a única iniciativa recente acerca da questão.
Há sete anos, entrou em vigor a Resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia, que mudou drasticamente o atendimento prestado a homossexuais. Desde então, os profissionais da área ficaram impedidos de interferir na reorientação sexual dos pacientes, devendo restringir seu trabalho ao tratamento de transtornos dela oriundos. Entidades como o Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) enxergaram na medida um casuísmo para impedir que os gays busquem ajuda para mudar sua opção, ainda que desejem isso.
Fonte: CristianismoHoje.com
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